O grande desafio dos pais e educadores cristãos é tocar o espírito da criança a fim de que o seu desenvolvimento seja integral. Para sermos bem-sucedidos na tarefa de educar, é necessário compreendermos as dimensões do ser humano e suas necessidades.
Somos a imagem e semelhança do Criador. Ele nos dotou de uma habilidade que nos distingue das demais criaturas, a linguagem, para nos comunicarmos e nos relacionarmos de forma racional e inteligente.
Além de seres racionais, Deus nos proveu de instintos, memória, imaginação, criatividade, inteligências, vontades e sentimentos.
Assim, cada criança é um ser moral e relacional, que necessita de pessoas para viver e crescer com base em princípios de obediência, respeito e dignidade. Tão importantes para uma vida boa, equilibrada e plena.
O transcendental e o espiritual é inato em todas as crianças. Elas são seres espirituais que têm a necessidade da verdade, do belo, da virtude moral e são chamadas a se relacionarem com o seu Criador a ter como destino a vida eterna.
1. A Psicologia do Desenvolvimento Infantil
Os primeiros estudos sobre o desenvolvimento infantil no campo da Psicologia surgiram no final do século XIX, com ênfase exclusiva no ambiente ou estruturas orgânicas e, mais recentemente, a integração entre ambos. Constatou-se também a necessidade de considerar e integrar aspectos biológicos e culturais. Mesmo assim, a dimensão cultural, religiosidade/espiritualidade são pouco consideradas entre os estudiosos.
Os psicólogos clássicos da Psicologia Infantil, como Piaget, Vygotsky e Wallon, desconsideram a dimensão espiritual do ser humano como parte de seu desenvolvimento.
Estudiosos dizem que Piaget talvez tenha sido o primeiro teórico a associar elementos religiosos ao processo de desenvolvimento humano, que o fez pensar sobre a universalidade da religiosidade humana.
Em seus estudos, percebeu que a criança entre 2 e 7 anos passa a usar a linguagem de forma expressiva e a utilizar símbolos. É o período em que ela não consegue se colocar no lugar de outro, porém ao mesmo tempo desenvolve um senso moral do que é bom ou mal.
Piaget associou particularidades da criança parecidas com experiências religiosas dos adultos.
Chamou de pensamento animista, a atribuição de características psicológicas humanas, como sentimentos e intenções, a objetos de seu meio. Piaget associa o animismo ao sentir que as coisas acontecem porque há uma intencionalidade divina.
Quando a criança atribui forma humana a objetos, plantas ou animais, Piaget chamou de antropomorfismo infantil e associou características da aparência e comportamentos humanos às divindades.
Se a criança diz que acredita em um ser muito grande de forma humana inventou tudo o que há no mundo, ele chama isso de artificialismo.
Por fim, o finalismo, que é a inclinação da criança a acreditar que todos os objetos ao seu redor têm a finalidade de servi-la.
Então, para Piaget, o animismo, o antropomorfismo, o artificialismo e o finalismo marcam a realidade das crenças da maioria das religiões no mundo. No entanto, seus estudos não passaram das associações entre comportamentos infantis e religiosidade dos adultos.
A visão cristã entende que para que haja uma educação integral equilibrada, é imprescindível a atenção para o aspecto espiritual.
Rubens Cartaxo, especialista na Educação por Princípios, afirma: “Sem a Bíblia não existe conhecimento para o serviço da humanidade, criatividade e razão moral, pois ela é o fundamento para os relacionamentos. Sem ela não existe redenção e salvação eterna”.
Comenius, bispo protestante, educador, cientista e escritor checo do século XVII, considerado o Pai da Didática (a arte de ensinar), já dizia que o ser humano nasce com as sementes da razão, da virtude e da piedade. Tais sementes não se desenvolvem sem a educação com a intervenção de pais e educadores logo nos primeiros anos de vida.
Ele dizia que na criança pequena há traços da imagem e semelhança de Deus, assim como da queda. Somente a educação integral, que envolve todas as dimensões do desenvolvimento infantil, pode evitar que a tendência pecaminosa se desenvolva e sufoque a beleza da personalidade humana, criada à imagem e semelhança de Deus.
2. Conhecendo as Dimensões do Desenvolvimento Infantil
1. Físico-motora – está relacionada ao corpo e pode ser chamada de natural e instintiva. Refere-se ao seu crescimento e maturação neurofisiológica. Exemplos de atividades associadas ao seu desenvolvimento: o bebê levando a chupeta à boca, o engatinhar, andar, correr, pular, saltar, equilibrar-se, as habilidades esportivas e artísticas, entre outras.
2. Cognitiva – está relacionada à alma e ainda é chamada de intelectual ou acadêmica. É a capacidade de raciocinar e crescer em conhecimento e sabedoria. Desenvolve-se por meio do exercício da memória, lógica, imaginação, escrita, senso de estética, etc.
3. Socioafetiva – ligada aos relacionamentos, à consciência, à vontade e à alma. Chamada também de social-moral, social ou emocional. Dimensão em que são desenvolvidos os valores, o respeito, as virtudes, a honra, a ética, o serviço, a doação, as normas de relacionamentos e condutas, a autoestima, as escolhas morais, entre outros.
4. Espiritual – aspecto que caracteriza a transcendência humana, o eterno e imaterial, o relacionamento com o Criador. Envolve o conhecimento de Deus por meio da leitura de sua Palavra, a prática da piedade, da contemplação, da oração, da adoração, da solitude, da meditação, da comunhão, da confissão, da celebração, etc.
3. A Linguagem e os Relacionamentos no Desenvolvimento Infantil
Em todas as dimensões, vistas no tópico anterior, podemos perceber a importância da linguagem e do relacionamento para que cada uma delas se desenvolva.
O desenvolvimento adequado da linguagem e o cultivo de relacionamentos saudáveis resultará em mentes capacitadas a não serem enganadas pelo sistema deste mundo e a não se desviarem do caminho que conduz à vida plena.
A atenção dos pais e de educadores precisa ser redobrada diante dessa necessidade de seus filhos e alunos em meio a tantos enganos e ideologias infiltrados nos meios de comunicação, na educação, na cultura, nos brinquedos, nas artes...
A linguagem precisa ser desenvolvida de forma efetiva em cada faixa etária e deve ser precisa para que haja comunicação clara e assertiva. A criança e o adolescente que desenvolve bem a linguagem saberá organizar melhor o seu pensamento e expressar verbalmente os seus sentimentos e ideias. Atualmente, pesquisas mostram que há uma defasagem dessa habilidade na infância e na adolescência.
Jesus nos alertou: “Quando disserem ‘sim’, seja de fato sim. Quando disserem ‘não’, seja de fato não. Qualquer coisa além disso vem do maligno” (Mateus 5:37 – *NVT).
O apóstolo Paulo também nos ensinou como deve ser nossa linguagem: “Que suas conversas sejam amistosas e agradáveis, a fim de que tenham a resposta certa para cada pessoa.” (Colossenses 4:6 - *NVT).
Antes deles, o sábio rei Salomão também nos alertou: “O que você diz pode salvar ou destruir uma vida; portanto, use bem as suas palavras e você será recompensado.” (Provérbios 18:21 – *NTLH).
Todos esses princípios podem e devem ser ensinados à criança desde a mais tenra idade, de acordo com a sua maturidade, por meio de histórias Bíblicas e outras, canções, conversas, ilustrações, etc.
Pais e educadores, usem recursos disponíveis e a imaginação para ensinar nossas crianças!
Os relacionamentos saudáveis começam no lar e a partir daí virão os demais. Quem ainda não leu os posts anteriores: “Os Quatro Significados do Amor” e “Quatro Modelos Educativos de Famílias” não deixe de ler. Lá você encontrará mais detalhes sobre esse tema.
*NVT = Nova Versão Transformadora
*NTLH = Nova Tradução na Linguagem de hoje
4. A Referência para o Desenvolvimento Infantil Integral e Saudável
Jesus é a nossa referência de crescimento integral e saudável. Lucas 2: 40, 46, 47, 51 e 52 nos conta sobre Ele no episódio em que esteve com os doutores, no templo em Jerusalém e sua volta com seus pais para Nazaré:
“Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”.
“... o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas”.
“E desceu com eles (José e Maria) para Nazaré e era lhes submisso...” E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens”.
Sabedoria diz respeito à dimensão cognitiva; estatura se refere à dimensão física; graça diante de Deus se remete à dimensão espiritual e graça diante dos homens, à dimensão socioafetiva.
O apóstolo Paulo, em sua carta aos Colossenses 2: 8-10 alerta e confirma: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vã sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto nele habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados”.
Para concluir:
Como é importante conhecermos bem e ampliarmos nossa compreensão a respeito dos nossos filhos e alunos e termos a Bíblia como nosso parâmetro!
Só assim podemos ir além da superficialidade na educação das crianças e adolescentes, preparando-os para enfrentarem os desafios que o mundo oferece.
No próximo post, falaremos sobre as fases do desenvolvimento infantil e suas características.
Não percam!
Bibliografia:
Conhecendo as Diversas Dimensões das Crianças – Rubens Cartaxo.
Didática Magna – João Amós Comenius.
O que há de religioso no desenvolvimento humano – uma revisão da Literatura – Fernando Antônio da Silva.
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