”... passei a acreditar que a criatividade é nossa verdadeira natureza e que os bloqueios são um entrave nada natural a um processo que é tão normal e milagroso quanto o desabrochar de uma flor”.
Esta frase é de Julia Cameron, autora do livro “O Caminho do Artista”, que estou lendo nos últimos dias. Leitura que tem me levado a vivenciar um encontro com as inseguranças e com os vilões que querem sufocar a minha capacidade criativa e aprisioná-la. Mas, também com incentivadores, desejos e vitórias pessoais.
Com este post quero reafirmar que a criatividade pode ser realidade na vida de todo ser humano e nunca é tarde para ativá-la.
Leia, reflita sobre cada dimensão que envolve a criatividade e a arte e, motive-se a enriquecer a sua vida e a de quem a rodeia.
1. Resposta
Temos fome do belo. Deus é belo e toda a Criação expressa a sua beleza. Sendo assim, temos fome de Deus.
O salmista Davi expressa seu desejo de contemplar a beleza do Senhor todos os dias de sua vida (Salmos 27: 4), de louvá-lo com arte, música e com júbilo (Salmos 33:3).
A arte é uma resposta a essa beleza. Mas, muitas vezes a impedimos dessa ação, por causa das “vozes” que ouvimos em nosso interior e nos trazem medo, confusão, frustração, ... E nos paralisam. Frases como:
“Ninguém vai querer ouvir a sua música.”
“Existem tantos escritores já reconhecidos e você pensa que alguém vai gastar tempo lendo o que você escreve?”
“Você já passou da idade para desenvolver o seu lado artístico.”
E outros pensamentos semelhantes a esses...
É preciso entender que a criatividade não diz a respeito de nós mesmos, mas é uma resposta do ser humano a quem Deus é e ao que Ele representa. Pode ser por meio de um poema, música, desenho, pintura, escultura, encenação, um arranjo de flores... Ou até mesmo por um jeito novo de expressar amor por alguém ou por Deus.
O amor nos faz belos porque fomos criados à imagem e semelhança do Criador, conforme Gênesis 1: 26-27. Ele é o amor expresso em sua plenitude por meio de Jesus, o autor da criatividade e da vida.
2. Serviço
Quando entendemos que Deus é a nossa fonte, conseguimos explorar de forma efetiva o nosso potencial criativo servindo-o com a nossa arte, ao servir as pessoas ao nosso redor e no mundo.
O nosso foco precisa estar em Cristo para que Ele seja engrandecido por meio dos talentos que nos deu. Se focarmos em nós mesmos, no que podemos fazer ou no que pensam ao nosso respeito, estaremos fadados ao erro e não expressaremos a sua beleza.
A razão da nossa arte é servir, fazendo o melhor com as habilidades que nos foram dadas e desenvolvidas com nossos esforços.
Card, artista e autor do livro “Cristo e a Criatividade – Rabiscando na Areia”, conta-nos que os artistas medievais não assinavam suas obras de arte. Houve um episódio em que Michelangelo assinou uma de suas primeiras esculturas – a Pietá, porque estavam atribuindo a obra a outro artista. Ele ficou muito irritado com isso, mas, depois se arrependeu de seu orgulho.
Mais adiante, na história da música, com este mesmo pensamento, podemos destacar Johann Sebastian Bach (1685-1750), compositor alemão do período Barroco (do século XVI ao XVIII). Bach passou 27 anos na Igreja de São Tomás, em Leipzig, sem buscar grandeza para si próprio. Ele trabalhava em função do domingo seguinte, compondo, regendo, tocando e ensinando. No cabeçalho de suas composições, ele escrevia “J.J” (Jesus Ajuda) e em seu rodapé “Soli Deo Gloria” (Glória somente a Deus).
Na visão desses artistas, a arte devia sempre apontar os holofotes apenas para Deus, que lhes deu dons e capacidades, e ser algo belo que o glorificasse. Assim deve ser também nos dias de hoje.
Para que a nossa arte seja relevante, ela precisa servir. Ao servir, o dom criativo se torna vida com: sons, movimentos, cores, palavras, direção e propósito.
3. Adoração
Deus nos fez corpo, alma e espírito. A obra redentora da cruz abrange o homem na sua totalidade. Cristo é o Senhor do homem todo, envolve o seu intelecto e criatividade.
Quando foram criados, o homem e a mulher receberam o domínio sobre tudo o que foi criado por Deus. Porém, com a queda, o homem perdeu esse senhorio e Jesus veio para restabelecê-lo.
Assim, a Arte precisa estar sob o senhorio de Cristo e, como já dito anteriormente, ser para a sua glória e não para engrandecimento do artista. Ela está relacionada à adoração a Deus, ao reconhecimento de quem Ele é.
4. Obediência
O artista não possui apenas a habilidade mecânica para executar a sua arte, mas ele também tem que ser sensível para ouvir a voz interior que o leva a determinar o que é belo e o que não é. São os valores estéticos, que devem ser obedecidos.
Nossos impulsos criativos vêm de um cérebro artista, que é totalmente sensorial. Ele não pode ser acionado apenas por palavras, mas pelo que vemos e ouvimos, pelos cheiros e gostos que sentimos e pelo toque.
Em seu livro “O Caminho do Artista”, Julia Cameron desafia seus leitores a colocarem no papel, todas as manhãs, os seus medos, insatisfações, sonhos e esperanças, a fim de reconhecerem e removerem os bloqueios que travam a criatividade. São as chamadas “Páginas Matinais”.
Tenho aproveitado este tempo de escrita matinal para expor meu coração diante do Deus Criador, expressando tudo o que há dentro dele. Este exercício tem sido uma experiência marcante, de entrega, reflexão e grande expectativa de descobrir e usar todo o potencial criativo que Ele me deu.
Cameron motiva os leitores a terem um encontro com o seu “artista interior”, ou sua “criança criativa”, que habita em cada um nós, a fim de alimentá-la e de nos abrirmos à direção, descobertas e inspirações.
Esse “Encontro com o Artista” deve acontecer a sós, pelo menos duas horas por semana. Pode ser uma caminhada à beira-mar, contemplando sua beleza e ouvindo os sons ao redor, ou no campo admirando o pôr do sol, o amanhecer, o colorido da vegetação, o canto dos passarinhos, o céu estrelado nas noites sem nuvens... ou até mesmo um passeio diferente: como ir à igreja ou sala de concerto para ouvir um coral ou uma orquestra, visitar uma galeria de arte e também lugares em que podemos ver ou fazer coisas novas e nos divertirmos.
Em minhas caminhadas, em um parque perto de casa, comecei a observar mais detalhadamente e a fotografar as nuances de cores e as formas das árvores e das flores, em contraste com a luz do sol e o azul do céu. Fotografar essas belezas está sendo um dos meus “encontros com o artista”. E que riqueza de encontro!
Nossa “criança interior” precisa de tempo, cuidado e ludicidade, a fim de termos um relacionamento real com a criatividade.
Como sabemos, toda criança é muito pronta a criar de forma singular e sem reservas, seja por meio da fala, do desenho, da pintura, da escultura, da composição musical, da dança, da encenação, das brincadeiras...
Todos os dias, como professora, tenho o privilégio de ter o contato com esses artistas natos e tão espontâneos.
No entanto, na faixa etária de meus alunos, 8 e 9 anos, ou até antes, os bloqueios já começam a aparecer e a limitar essas crianças, devido às falas e atitudes equivocadas de adultos ou de outras crianças, que já estão bloqueadas, consciente ou inconscientemente, tais como:
“Que desenho horrível!”
“Você não sabe fazer nada mesmo!”
Falas como essas causam desmotivação e incutem nas mentes das crianças algo falso sobre suas capacidades.
A criatividade só floresce quando há senso de segurança e autoaceitação. Pais e educadores precisam saber dessa verdade e estarem atentos ao que pode impedir que as crianças sejam livres para criarem em benefício próprio e de outras pessoas. Elas precisam urgentemente de motivação e apoio para desenvolverem o que lhe é próprio, a arte.
Quando nos abrimos para a criatividade estamos obedecendo a um chamado, estamos dizendo sim para a manifestação divina em nós e através de nós. Não podemos privar as pessoas desse benefício.
Para concluir...
Vou deixar aqui o meu incentivo para você, contando algo lindo que estou tendo o privilégio de fazer parte, como professora de música.
Recentemente, fui surpreendida com a mensagem de uma amiga, mãe de ex-alunos, que eram crianças e hoje já são adultos e com suas famílias formadas.
Ela estava interessada em aprender a tocar violão e disposta a incentivar uma menina de 11 anos, que sempre desejou aprender o mesmo instrumento. Então, faríamos aula em dupla. Qual não foi a minha surpresa quando ela também me falou de sua sogra, uma senhora de 85 anos, que queria retomar as aulas de piano, iniciadas e encerrada há anos e, assim, formaríamos um trio.
Iniciamos as aulas recentemente, no início de novembro de 2022 e, em pouco tempo, o grupo aumentou! Estamos com três jovens, duas adultas e a dona Teresinha, na melhor idade.
Isso prova que sempre é tempo para o despertamento da criatividade e da arte em nossas vidas. Não há limites para fazer o bem para si mesmo e para o outro. Lembre-se que ao nos abrirmos para ação criativa, estamos nos abrindo para a manifestação de Deus em nós e através de nós. Pense nisso!
Se desejar aprofundar-se mais sobre o assunto, sugiro a leitura dos livros:
A Arte e a Bíblia (Francis A. Schaeffer);
Cristo e a Criatividade – Rabiscando na Areia (Michael Card)
O Caminho do Artista (Julia Cameron).
O que achou sobre este artigo? Deixe o seu comentário, que é muito importante para a continuidade e aperfeiçoamento deste trabalho.
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Até breve, no próximo post!
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