Qual é o papel da autoridade dos pais no desenvolvimento dos filhos?
A resposta para esta questão precisa ser entendida por muitas famílias, na atualidade, por motivos bem sérios:
Filhos estão crescendo sem limites e respeito ao próximo. São fracos, incapazes de enfrentar as frustrações e dificuldades da vida.
Pais inseguros, que temem exercer a autoridade porque pensam que estão tirando a liberdade de seus filhos.
Hoje, o mundo passa por uma crise de autoridade, fenômeno sociocultural que vem acontecendo desde o século passado em todas as sociedades. São correntes que desprestigiam e colocam a autoridade em oposição à liberdade, associando-a ao autoritarismo e a liberdade à independência. O que não é verdade. A autoridade não se contrapõe à liberdade e não é autoritarismo. Ser livre não é ser independente, principalmente quando nos referimos às crianças.
Como já falamos anteriormente, em outros artigos, o ser humano não vem pronto para o mundo. Quando pequeno, precisa ser conduzido no processo de desenvolvimento para que alcance o máximo de seu potencial.
Neste post, abordaremos como este engano chegou aos nossos lares. Faremos uma reflexão sobre o que é, de fato, autoridade e obediência e como contribuem para a real autonomia e liberdade de escolhas baseadas em valores e princípios herdados pela família.
Informações Históricas
No século XX, no período pós-guerra, surgiu na Europa um movimento intelectual que disseminou a ideia de que os totalitários foram gerados por relações autoritárias da família.
Eles estavam envolvidos com o Totalitarismo – regime governamental coletivista, cujos membros do governo possuem poder absoluto sobre os cidadãos. São exemplos de totalitários: Mao Tsé Tung que, em seu governo comunista, assassinou aproximadamente 77 milhões de pessoas e Hitler, que em seu governo nazista cometeu aproximadamente 17 milhões de assassinatos. Fonte: https://encyclopedia.ushmm.org/content/en/article/documenting-numbers-of-victims-of-the-holocaust-and-nazi-persecution
Essa corrente intelectual confundiu o termo autoridade com o autoritarismo e algumas teses da linha psicanalista marxista, dizem que pais afetuosos e permissivos protegem a personalidade do filho e fará com que ela apareça.
E, assim, tais ideias vão se infiltrando de forma subliminar, espalhando o engano, que se transforma em crença e ocupa o imaginário das pessoas.
Por isso, muitos pais pensam: “Eu tenho que deixar meu filho ter autonomia. Ele tem que ser livre! Se eu quero uma criança independente, não posso mandar no que ela deve fazer”.
Este pensamento, se for levado ao extremo, pode ser considerado negligência porque um ser que não tem como dar conta de si está sendo abandonado e entregue a qualquer ensinamento que o mundo oferecer.
Desta forma, todo tipo de autoridade acaba sendo negado.
Recentemente, ouvi de um estudante de 8 anos: “Você não manda em mim! ”, quando solicitei que guardasse um material que estava usando em momento indevido, impedindo-o de participar da aula. Ao conversar com a mãe, soube que ele falou a mesma frase para ela e em uma ocasião, não sei se foi a mesma, a agrediu fisicamente.
Diante de todo esse quadro, vamos refletir a seguir sobre o que é, então, autoridade.
Autoridade
Do latim (auctoritas, augere), autoridade é: aumentar, fazer crescer e prosperar. A ideia de autoridade é prestar um serviço a alguém. E o significado que o dicionário Webster 1828 traz é: o poder legal de comandar, o domínio e controle dos pais sobre os filhos.
Existe uma hierarquia entre pais e filhos. Como os pais trouxeram os filhos ao mundo, têm o dever de exercer a autoridade sobre eles e o direito de serem obedecidos por eles.
Enquanto que os filhos têm o direito de serem orientados pelos pais e o dever de obedecê-los.
A autoridade paterna e materna expressa a ideia de proteção, cuidado e auxílio para que o filho atinja o máximo de seu potencial.
A autoridade dos pais precisa estar baseada na ação exemplar. Não é possível exigir a verdade de uma criança se ela presencia os pais mentindo, por exemplo.
Por isso, autoridade não se opõe à liberdade. A autoridade dentro da família é uma prestação de serviço no preparo da pessoa para o exercício pleno de sua liberdade. Tudo o que for vivido na infância se transformará em critérios para escolhas no futuro.
A prudência e a sabedoria dos pais, no exercer da autoridade, determinarão o que vai mover a criança para o bem. Afinal, são eles que conseguem identificar racionalmente o que ela ainda não pode enxergar em seu caminho. A Bíblia, no livro de Provérbios, capítulo 22, verso 6, é muito precisa na orientação aos adultos sobre esta verdade: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”.
Obediência
A obediência há séculos é considerada uma virtude. Obedecer, de acordo com o dicionário Webster 1828, é atender a comandos, a ordens ou instruções de um superior. Aquele que aprende a obedecer saberá como comandar futuramente. A Bíblia traz uma ordenança aos filhos e podemos lê-las em:
Efésios 6:1 - “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo”.
Colossenses 3:20 - “Filhos, em tudo obedecei a vossos pais, pois fazê-lo é grato diante do Senhor”.
De acordo com a educadora familiar e fonoaudióloga Simone Fuzaro, obedecemos a alguém quando identificamos uma legítima autoridade e nos sentimos motivados internamente a obedecer. Se a autoridade não é exercida, a obediência não acontece. Obediência é fruto da identificação da autoridade do outro.
Na visão que prevalece hoje, o seu significado foi mudado para submissão cega e sem sentido.
Os pais que se sentem inseguros, que não se sentem no direito de orientar os filhos e não entendem o real significado da obediência, estão tirando a liberdade deles e os impossibilitando de terem personalidades próprias. Além disso, estarão lhes negando o que possuem de mais precioso: uma herança de convicções, crenças, valores e tradições familiares.
Desta forma, criam filhos inseguros, perdidos, sem o sentimento de pertencer.
Autonomia e Liberdade X Autoridade
Immanuel Kant, filósofo prussiano da era moderna, defendeu que a liberdade é a autonomia de cumprir o seu dever de acordo com as Leis da Natureza. O que torna cada um de nós donos de nossas ações.
Esse conceito de autonomia causou enorme confusão e culminou nas pedagogias liberais, muito valorizadas hoje. Elas pregam o fim da autoridade. Pais, professores e crianças têm a mesma capacidade de escolha e determinação, ou seja, cada um tem a sua autonomia.
Um dos traços da personalidade humana é ser livre. Para ser livre é necessário ter critérios baseados em valores e crenças, que possibilitam decisões racionais, executadas por uma vontade firme e segura. E quando os filhos são acompanhados pelos pais na elaboração de critérios, eles terão a capacidade de desenvolver todo o seu potencial.
Se esse acompanhamento não acontecer durante o processo de formação de uma criança, ela até poderá ter certa independência, porém, liberdade não. Ela será levada a tomar decisões por seus impulsos e não será movida a um bem.
A autoridade dos pais é um presente para os filhos, é um serviço de essencial importância. É transmitir o que há de melhor para encher suas vidas de bens, sem deixar vazio a ser preenchido.
O Uso da Autoridade dos Pais ou Responsáveis no Dia a Dia
O exercício da autoridade precisa ser pensado, planejado, com objetivos claros. Se não, a autoridade se transforma em autoritarismo, porque são ordens sem sentido e impossíveis de serem obedecidas.
A seguir, estão alguns direcionamentos, para o uso da autoridade dos pais ou responsáveis, que podem ser adaptados de acordo com a realidade e circunstâncias de cada família:
1. Ter objetivos claros quanto ao bem que desejam ensinar ao filho - é necessário saber qual o bem que ele precisa aprender, de acordo com o seu temperamento, comportamento e jeito de ser; identificar a ordem que faz sentido àquela criança.
2. Dar poucas orientações com clareza – verificar se a criança entendeu o que lhe foi ordenado. A persistência e a constância são as chaves para que a criança aprenda. Ela aprende por meio de muitas repetições.
3. Não ameaçar – quando colocamos um “se” é dada uma opção para a criança. Por exemplo: “Se você não fizer suas tarefas...” Abre-se aí uma opção e o que pode acontecer se não a fizer. E quando o adulto volta atrás em sua ordem, se a criança chorar muito, por exemplo, sua autoridade vai ser questionada e anulada. É preciso ser firme na ordem dada.
4. Não oferecer recompensas – “Se você fizer suas tarefas, você vai ganhar...” Assim, a criança estará aprendendo a ser materialista e a fazer barganhas. Ela não vai fazer o bem pelo bem, mas porque ganhará algo material em troca. Esse tipo de atitude de quem educa não colaborará na sua autoridade e nem na formação da criança.
5. Ajudar a criança a fazer o que foi determinado – prepare o ambiente para a criança obedecer, repita quantas vezes for necessário até ela entender que é um bem e se torne um hábito, como: a hora de guardar os brinquedos e ir tomar banho.
É importante considerar que a criança só tem noção do prazer imediato, por isso suas argumentações não podem prevalecer sobre a ordem de um adulto, que enxerga um bem racionalmente para o futuro.
Para Concluirmos...
Vamos pensar nas análises que fizemos das palavras: autoridade, obediência, autonomia e liberdade?
Elas mostram que um significado não se separa do outro, eles estão interligados. Sem autoridade não há obediência e sem obediência e autoridade não há autonomia, nem liberdade.
É hora de deixarmos de subestimar o potencial das nossas crianças, pegarmos em suas mãos e ajudá-las a chegarem aonde podem chegar... Muito longe!
O tema do próximo post é surpresa... Não percam!
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